Duas alunas de raças diferentes

Sua escola sabe acolher as diversidades?

Comunicação escolar
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Espelho da sociedade, a escola é um espaço de realidades diversas. Seja no âmbito racial, de classes sociais ou formatação de famílias, cada aluno e cada colaborador tem uma particularidade que deve ser respeitada. Trabalhar a diversidade na escola, portanto, é essencial para criar um ambiente de respeito e onde as diferenças não sejam tratadas sob o olhar da exclusão.

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) elenca como a primeira competência geral da educação básica "colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva". Ter contato com o mundo diverso, portanto, é essencial para que essa competência seja atingida.

Além disso, nas demais nove competências previstas na base curricular, todas perpassam pela diversidade da sociedade, como, por exemplo, valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, compreender-se na diversidade humana e reconhecer suas emoções e as dos outros, etc.

A BNCC ainda diz que a sociedade contemporânea requer um olhar proativo e inclusivo para as relações humanas:

Dentro desse cenário, o documento ainda cita que é a papel da escola, como espaço de aprendizagem e de democracia inclusiva, fortalecer na prática coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades.

Como lidar com a diversidade na escola

O professor Antonio Silvio Kelly Lima Freitas compartilhou um estudo que realizou em 2018 numa escola do Piauí por meio da oficina "Paz da Escola". A oficina foi realizada com uma turma da 1ª série do Ensino Médio, que, segundo o docente, chegou ao novo ciclo com valores que se contrapunham ao respeito às diferenças.

"Provocações de natureza racial, regional e religiosa também eram habituais na turma. Algumas das dificuldades tinham relação com preconceito de gênero, já que, na turma, havia um aluno transexual, que, inclusive, utilizava seu nome social", escreveu o professor.

Ele apresentou a oficina para a turma e dividiu os alunos em quatro grupos para a abordagem dos subtemas étnico-racial, gênero, regional e religião, com criação de seminário, análise de música e filme, dentre outras atividades que buscavam suscitar o protagonismo dos estudantes diante dos desafios em lidar com a diversidade.

"O projeto gerou nos alunos e na própria comunidade escolar um espírito de humanidade, promovendo reflexão e valorização do que é diferente culturalmente", avaliou o professor.

A oficina foi, num primeiro momento, alvo de múltiplos sentimentos dos alunos, de acordo com o professor Antonio. No entanto, o que ele pôde perceber foi que os alunos careciam de informações sobre o tema e a implicação na vida social de cada um.

Ao fim do projeto, o professor Antonio Freitas avaliou que os resultados foram parcialmente alcançados, mas pontuou a vitória em conseguir promover o debate e provocar o senso comum.

Sendo assim, lidar com a diversidade na escola demanda ações pedagógicas que estimulem o pensamento crítico dos alunos, mostrando cenários aos quais eles não são expostos diariamente. 

Como ficou evidente na oficina na escola do Piauí, muitas vezes os alunos não têm um conhecimento vasto sobre a diversidade da sociedade e não conseguem lidar com o diferente por não fazer parte do cotidiano dele. Ao colocá-los diante dessas temáticas, a escola consegue preparar esses cidadãos a respeitarem as diferenças e a encararem a diversidade.

Capacitar professores

Além de criar um plano de ação para que a diversidade na escola seja uma realidade, deve partir da gestão a iniciativa de capacitar os professores para lidar com a temática. Para as pesquisadoras Maria Aparecida Silva de Souza e Sheila Siqueira da Silva, esse esforço exige saberes atuais e a utilização de ações que transformem a educação. 

Segundo elas, é preciso buscar "estratégias de ensino que considerem as mudanças decorrentes de um mundo globalizado que cada vez mais exige novas maneiras e práticas docentes nos espaços educativos".

"Somos educados para trabalhar com um aluno ideal e quando nos damos conta de que a realidade não corresponde a nossa expectativa, sentimos impotência e frustração. Mais do que isso, como não estamos preparados para compreender a diversidade, acabamos por responsabilizá-la pelo nosso fracasso".

De acordo com as pesquisadoras, os professores precisam educar para a diversidade para além do "tolerar e saber que as diferenças existem", levando em consideração as relações culturais e os direitos. Portanto, eles precisam ser atualizados constantemente sobre como isso impacta as relações sociais e como a temática pode ser abordada nas disciplinas e em projetos educacionais. 

"A escola é o espaço sócio cultural de construção de subjetividades, nela as diferentes identidades se encontram, se constituem, se formam e se produzem, portanto, é um dos lugares mais importantes para se educar com vias ao respeito à diferença", avaliam.

Além desses dois pontos, a escola também pode atuar na contratação de um time diverso, promovendo a diversidade e inclusão também dentro da equipe escolar. 

Diferentes configurações de família e as datas comemorativas

Pai e mãe, mãe ou pai solo, duas mães, dois pais, crianças que são cuidadas pela avó, adoção e por aí vai… as configurações de família estão cada vez mais diversas e a escola precisa entender essa realidade e saber como acolher todas as famílias da sua comunidade.

Ao ter diferentes formatações de família, a escola deve alterar costumes e contribuir para uma nova cultura escolar. Além disso, muitas vezes a escola acaba replicando um discurso enraizado na cultura patriarcal onde o "pai" estaria ligado a questões financeiras enquanto a "mãe" seria a responsável pedagógica. 

Conhecer a sua comunidade se torna ainda mais essencial diante dessa questão, uma vez que isso vai minimizar situações de constrangimento para famílias e escolas. Assim, a escola consegue elaborar bilhetes e comunicados que sejam mais acolhedores a todos os tipos de família. Em vez de utilizar "senhores pais" para iniciar um comunicado, que tal trocar por "queridas famílias"?

Pensando nisso, uma sugestão é avaliar a comemoração de dias das Mães e dos Pais - datas que são tradicionais no calendário escolar, mas que podem gerar constrangimentos para famílias de diferentes configurações. Além disso, muitas famílias perderam entes queridos durante a pandemia e tais comemorações podem despertar gatilhos em alunos que não conseguiram lidar com o luto. Que tal, então celebrar o Dia da Família?

Ambiente de empatia e convívio com o diferente

A escola não pode deixar a inclusão e diversidade apenas no papel. Não adianta nada criar comunicados acolhedores se a prática pedagógica não estiver alinhada a esse discurso. É preciso estimular toda a comunidade a conviver e respeitar as diferenças, criando um ambiente de empatia dentro dos muros da escola - quando feito de forma efetiva, a empatia também vai extrapolar as paredes escolares!

A Comunicação Não Violenta pode ser uma saída para criar um ambiente de respeito dentro da escola, uma vez que essa técnica vai contribuir facilitando o diálogo, favorecendo o engajamento e ampliando a conexão e a união entre as pessoas.

Sabemos que nem sempre lidar com as diferenças é algo fácil para os alunos. É aí que geralmente surgem os casos de bullying dentro do ambiente escolar e fora dele, por meio das redes sociais. Como sua escola lida com os casos de agressões?

Clique aqui e confira nosso artigo sobre como enfrentar o bullying na escola.

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