Comunicação não violenta: o que é e como usá-la no dia a dia da escola
Quantas vezes você participou de uma conversa que mais parecia uma batalha? Argumento daqui, contra-argumento de lá, uma ideia é colocada e automaticamente é rebatida e assim vai até que o diálogo termine. Não há vencedores, mas sim duas ou mais pessoas exaustas e insatisfeitas.
Isso é mais normal do que poderíamos imaginar, não é mesmo? As pessoas não querem ouvir, apenas ser ouvidas ou que o outro concorde com o que disseram.
Há muito tempo, um século antes do nascimento de Cristo, o célebre poeta romano Publius Sirius disse:
“Estamos interessados nos outros quando eles se interessam por nós”.
Uma demonstração de interesse, como todos os princípios das relações humanas, deve ser sincera. Deve recompensar não apenas a pessoa que se mostra interessada, mas também a pessoa objeto de atenção. Uma rua de mão dupla: ambas as partes se beneficiam.
Pense no dia a dia na sua escola. Quantas conversas são ‘travadas’ nos corredores, escritórios e salas de aula como se fossem jogos medievais? Como você reage de acordo com as respostas que recebe?
Mas é possível mudar essa realidade e buscar uma solução voltada para compaixão e empatia, conceitos que precisam ser melhor trabalhados em nossas vidas. Um caminho pode ser a chamada comunicação não violenta.
Confira a seguir o que é a comunicação não violenta e como ela pode ser adotada na escola!
O que é a Comunicação Não Violenta (CNV)?
O que é a comunicação não violenta, também chamada de CNV? É uma abordagem que busca a resolução de conflitos por meio de diversas práticas que estimulam a compaixão e a empatia. Ela se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos mesmo em condições adversas. Seu foco é reformular a maneira pela qual nos expressamos e também ouvimos os outros, porque nós sempre focamos no falar.
O conceito de comunicação não violenta foi desenvolvido pelo psicólogo norte-americano Marshall B. Rosenberg com intuito de contribuir com os relacionamentos interpessoais e profissionais.
Ele foi o fundador do The Center for Nonviolent Communication. Além de elaborar a Comunicação Não Violenta, ele a disseminou em cerca de 60 países e foi autor de vários livros sobre o tema.
Um desses ótimos livros, que é muito indicado para quem quer aprender a como trabalhar os conflitos interpessoais de maneira mais saudável e compassiva, é o "Comunicação Não Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais". Marshall morreu em 2015, deixando suas ricas contribuições para as relações humanas.
Os pilares que guiam a metodologia da Comunicação Não Violenta são: observação, sentimentos, necessidade e pedido.
Confira na imagem:
Essas ações têm tudo a ver com um processo de tomada de consciência interna (do que está acontecendo dentro de mim) e externa (o que está acontecendo com o outro) e, depois disso, tentarmos resolver o que tiver que ser resolvido nos nossos conflitos. Nesse processo, podemos seguir alguns passos que nos ajudarão a ter conversas mais saudáveis:
1. Observação
Fazer observações sobre as ações ou falas da pessoa que está nos incomodando ou gerando conflito, em uma discussão, por exemplo. É importante que essas observações sejam baseadas em fatos, e não em nossas interpretações acerca do que a pessoa quis dizer com suas atitudes, mas sim, o que de fato ela fez ou falou.
2. Sentimentos
Depois de observar o que causou o conflito, podemos nos voltar para nós mesmos, percebendo e identificando os sentimentos que estão aflorando dentro de nós a partir das atitudes da pessoa. Estamos sentindo raiva? Frustração? Medo? Preocupação? Alívio?
Nesse momento é bem importante utilizarmos palavras que sejam, de fato, sentimentos e não julgamentos. Por exemplo, quando digo que estou me sentindo “ignorado” isso não é de fato um sentimento, pois a palavra descreve a ação de uma terceira pessoa “você está me ignorando”. A ideia aqui é que você se pergunte: “se estou com a sensação de que estou sendo ignorado, o que eu de fato sinto?”.
Esse exercício é importante não porque você quer se enganar ou tirar a responsabilidade do outro pelas ações dele, mas sim porque você quer aumentar suas chances de ser ouvido quando for falar sobre algo. Se você disser “estou me sentindo triste com o que aconteceu” em vez de “estou me sentindo ignorado por você” suas chances de ser escutado são maiores.
3. Necessidades
Após nomear esses sentimentos, podemos então identificar as necessidades que são apontadas por eles. Se estamos nos sentindo frustrados, qual foi a necessidade que não foi atendida e que gerou essa frustração?
Comunique suas necessidades se responsabilizando por elas, por exemplo, em vez de dizer “estou irritado porque vocês não ficam quietos” você pode entender quais necessidades suas não estão sendo atendidas e comunicá-las “estou irritado porque eu tenho uma aula para dar e vocês estão atrapalhando o meu trabalho como educador. Cooperação é algo importante para convivermos bem e gostaria de conversar sobre os acordos que vão nos ajudar a conviver melhor aqui em nossa sala de aula”.
4. Pedido
Depois de entendermos melhor o que precisamos, podemos fazer um pedido claro para que nossas necessidades sejam atendidas. Na conversa, todas essas questões podem ser trazidas à tona, para que fique claro o que está se passando entre nós e o outro.
Isto é, podemos comunicar a ele as nossas observações, a partir do que ele fez ou falou, depois explicar o que sentimos a partir dessas atitudes, bem como do que precisamos e não está sendo suprido e então, fazer um pedido claro do que queremos. Muitas vezes isso pode ser difícil pois não sabemos o que queremos ou até mesmo temos receio de receber um “não” como resposta.
A Comunicação Não Violenta é um convite para termos conversas corajosas. É claro que é muito mais gostoso quando as pessoas adivinham o que estamos precisando, mas é injusto esperar isso delas.
Para que um vínculo de confiança se estabeleça, precisamos comunicar nossas necessidades e pedidos de maneira que as outras pessoas tenham clareza sobre como poderiam nos ajudar.
Assim, parte da CNV consiste em expressar as quatro informações muito claramente, seja de forma verbal, seja por outros meios. O outro aspecto dessa forma de comunicação consiste em receber aquelas mesmas quatro informações dos outros.
Nós nos ligamos a eles primeiramente percebendo o que estão observando e sentindo e do que estão precisando; e depois descobrindo o que poderia ajudá-los ao receberem a quarta informação, o pedido.
À medida que mantivermos nossa atenção concentrada nessas áreas e ajudarmos os outros a fazerem o mesmo, estabeleceremos um fluxo de comunicação dos dois lados, até a compaixão se manifestar naturalmente: o que estou observando, sentindo, necessitando e o que estou pedindo para enriquecer minha vida; o que você está observando, sentindo, necessitando e pedindo para enriquecer sua vida.
Quando a CNV pode ser usada?
Em todas as conversas, discussões, reuniões, até em brigas e nas mais diversas situações. Isso porque quando nos comunicamos, expressamos comportamentos na nossa fala que denunciam as nossas necessidades. Elas são comuns a todos nós, seja quando demonstramos raiva, frustração, alegria ou satisfação, entre muitos outros sentimentos.
A grande questão é que quase sempre perdemos tempo discutindo o comportamento, que sempre varia de pessoa para pessoa, e acontece por motivações diversas, mas quase nunca discutimos o que está por trás dos comportamentos: às necessidades.
São justamente as necessidades que são comuns a todos nós e o que de fato, nos conecta. Em vez de julgarmos uma pessoa do porquê ela fez isso ou falou aquilo, podemos tentar identificar quais são as necessidades dela que não estão sendo atendidas e comunicar isso.
A identificação do que a pessoa está precisando é geralmente a fagulha que gera a conexão, e daí podemos deixar o comportamento de lado e começar a entender o que existe de mais profundo nas pessoas com quem nos relacionamos.
Esse pensamento nos permite enxergar além do comportamento e assim, identificar o que de fato está gerando conflito, caminhando para um debate mais saudável, sem ataques, julgamentos e rotulações, que são barreiras para a conexão.
Como aplicar CNV no dia a dia da escola
Toda escola é por natureza um ambiente heterogêneo, uma união de diferentes pessoas, com diferentes vivências e expectativas. E é neste rico ecossistema que cada aluno busca o seu desenvolvimento e aprendizado.
A responsabilidade em manter esse ambiente saudável sempre foi uma tarefa um tanto quanto desafiadora. Sobretudo, quando há conflitos entre alunos e até mesmo com os responsáveis. Mais do que nunca, a escola precisa ser a protagonista da sua comunicação para que junto com as famílias garantam a continuidade da educação dos alunos.
Neste cenário, a comunicação não violenta na sala de aula e na escola pode contribuir facilitando o diálogo, favorecendo o engajamento e ampliando a conexão e a união entre as pessoas.
O primeiro passo para desenvolver a comunicação não violenta na escola é torná-la consciente, ou seja, falar sobre ela e apresentar o conceito para a equipe, para os alunos e também para os responsáveis. Além disso, para que todos estejam engajados e comprometidos em colocá-la em prática, é essencial que os seus benefícios estejam claros.
Uma vez que todos estão cientes, é hora de incluir atividades que reforcem esses conceitos no cotidiano. Lenize Diniz Ganeo, professora no SESI de Santa Bárbara d'Oeste, indica rodas de conversa como uma atividade para desenvolver com os alunos. "Deve ser um espaço para ouvir o outro e expressar opiniões", complementa.
Às vezes os alunos têm ideias mirabolantes e é papel dos professores, coordenadores e diretores orientá-los e estabelecer limites. Porém, seguindo os quatro pilares da CNV, é preciso se lembrar que toda ideia surge de uma necessidade.
Rose Greggo, professora na rede municipal de Santa Bárbara d'Oeste, conta que a comunicação não violenta é fundamental para o bom relacionamento com os alunos e se recorda de uma história inusitada.
Certo dia uma turma do ensino fundamental II decidiu que levaria o café da manhã para dentro da sala de aula. Quando a direção ficou sabendo, sua primeira reação foi julgar, que o objetivo da turma era matar tempo de aula. Porém, antes de tomar qualquer decisão, a direção decidiu ouvir o porquê da realização do café da manhã. E a resposta dos alunos foi que nem todos os colegas tinham tempo para se alimentar antes de ir para a escola, por isso eles passariam a chegar 10 minutos antes para realização do café coletivo. A partir disso, a direção autorizou a ação, desde que os alunos não perdessem tempo de aula.
"O tempo foi passando e até o último ano do Ensino Médio naquela classe, tinha o café. Foi uma turma na qual todos se ajudavam, ficavam em período contrário para estudarem juntos, explicavam as matérias para os que tinham mais dificuldades, classe unânime na participação em atividades e eventos escolares e como esperado, conseguiram chegar ao final com ótimo aproveitamento," completa Rose.
Mas, como traduzir as práticas de comunicação não violenta para o dia a dia da escola? Veja três dicas:
1. Escolha um meio de comunicação que favoreça o diálogo
Imagine que você chama um responsável para conversar, sua intenção é aplicar as técnicas de comunicação não violenta, porém a todo momento a conversa é interrompida, seja com alguém batendo na porta ou com o telefone tocando. Você acredita que essa conversa vai alcançar o objetivo desejado?
Essas interrupções e distrações são muito difíceis de controlar no mundo digital, afinal nele é o usuário que escolhe para o que vai dar prioridade. Porém, existem algumas estratégias que favorecem o foco da atenção nos comunicados e diálogos com a escola:
Quando um responsável recebe uma notificação da ClassApp, ele sabe que é referente a vida escolar de seu filho, logo ele consegue priorizar a sua leitura. Diferentemente de quando ele vê uma notificação do WhatsApp, em que a mensagem pode ser do grupo da família, do grupo dos amigos ou da escola.
2. Garantia de estar conversando em um ambiente privado
Para que o responsável sinta-se à vontade para dialogar com a escola, é fundamental que ele saiba que essa conversa é segura e privada. Com um aplicativo de comunicação especializado isso é possível, sem a perda da celeridade da comunicação.
3. Use as ferramentas para dar voz aos responsáveis e alunos
Uma das prerrogativas da CNV é a construção de um mundo mais colaborativo, por meio da escuta e alinhamento das necessidades de todos e para isso é preciso reconhecer quais são elas. E funcionalidades, como as Enquetes do ClassApp, contribuem para essa troca.
Aproveite e pergunte mais, seja genuinamente curioso sobre o que o outro pensa e sente, que assim você estará colocando a CNV em prática.
Como vimos, a comunicação não violenta é uma excelente ferramenta para facilitar o relacionamento entre as pessoas. Transferir essa prática não vai ser uma tarefa difícil para as escolas que contam com o apoio de uma boa ferramenta de comunicação.
Para você entender como um aplicativo de comunicação pode ajudar em outras áreas da escola, fale com um de nossos especialistas e confira como o ClassApp é o parceiro ideal para isso.